Eis aqui um
assunto polêmico e raramente abordado dentro da Umbanda e demais segmentos que
têm no intercâmbio ostensivo com a Espiritualidade uma de suas bases de
atuação.
No entanto,
premidos a dar um freio a crescente vulgarização e ao dogmatismo (afirmação
indiscutível) com que alguns tratam o fenômeno da mediunidade, cabe-nos, serena
e racionalmente, expor nosso ponto-de-vista.
Um número
considerável de pessoas que militam em religiões de cunho mediúnico (Umbanda,
Espiritismo, Candomblé etc.) têm como verdade absoluta e inquestionável, e por
isto a afirmam categoricamente, que todos os seres humanos são médiuns. E o
fazem tomando por base principalmente a literatura kardecista, notadamente no
que está inserido no Livro dos Médiuns.
No capítulo
destinado a conceituação de Médium, está inserto: "Todo aquele que sente
num grau qualquer a influência dos espíritos, é por este fato médium".
Analisemos,
pois, esta assertiva.
Sabemos que
desde tempos imemoriais o Homem sempre sofreu de maneira ininterrupta a
influência do mundo espiritual. Do Grande Arquiteto do Universo (Deus, Tupã,
Zambi, Olorum, Allah) aos nossos protetores individuais, a interação entre os
dois níveis (dimensões) foi e é uma constante, no sentido de auxílio aos seres
encarnados, durante sua jornada terrena.
No
dia-a-dia, os espíritos atuam sobremaneira em nossas vidas, nos impulsionando,
respeitado o livre arbítrio, a absorver valores espirituais, morais,
intelectuais, comportamentais, que sabem ser de extrema valia para a nossa
evolução.
De outro
lado, não faltam individualidades ou coletividades espirituais que tentam a
todo o custo desviar-nos do caminho do bem. Incutem ou tentam incutir em nossa
mente a discórdia, a raiva, a vingança, o egoismo, e outros tantos sentimentos
retrógrados.
Mas daí a
asseverar que influência dos espíritos e mediunidade são a mesma propriedade, é
notório equívoco Porque a influência sobre os humanos por parte da
Espiritualidade é questão de sensibilidade, e não de mediunidade. E
sensibilidade todas as pessoas possuem, em maior ou menor grau.
Sensibilidade,
e o próprio nome já externa, é a capacidade de sentir impressões de alguém ou
algo. E esta capacidade está diretamente ligada a sintonia ou faixa vibratória
do receptor e do emissor. Então, se sentimos a influência dos espíritos, é
porque estes emitem sobre nós ondas ou feixes eletromagnéticos que têm algum
tipo de afinidade ou sintonia com a nossa composição espírito-material. Não
devemos olvidar que tanto os desencarnados quanto os encarnados são formados de
partículas atômicas (prótons, elétrons, neutrons, e suas sub-partículas) que se
interagem, havendo apenas variação quanto a densidade ou materialidade com que
se apresentam.
Cabe-nos
dizer, ainda, que podemos sentir a presença dos espíritos de várias formas, mas
sua influência sobre nós sempre efetivar-se-á a nível mental.
No que
concerne a mediunidade, sabemos ser esta uma atividade neutra, uma vez que
tanto pessoas boas quanto as más a exercem.
A palavra
médium é originária do idioma latim, sendo uma variante do termo mediu, vale
dizer, tudo aquilo que se encontra em posição mediana e liga ou vincula duas
extremidades ou pólos.
Assim,
médium é toda pessoa que serve como instrumento ou veículo de manifestação dos
espíritos, para se alcançar uma finalidade no mundo material ou terreno, ou
mesmo na espiritualidade.
Para melhor
diferenciarmos influência dos espíritos de mediunidade, daremos exemplos bem
fáceis de serem assimilados.
1º Vamos
supor que uma pessoa esteja sendo vítima de processo obsessivo por parte de
espíritos que com ela tenham tido desavenças no passado.
O indivíduo
atacado está sofrendo influência dos obsessores. Neste caso, não há que se
falar em mediunidade, pois a vítima não está fazendo papel de intermediária dos
espíritos para alguma finalidade. Ela, a pessoa obsediada, é o próprio fim a
ser alcançado pelos obsessores, no que tange a sua desestabilização
psico-espiritual.
2º
Visualizemos agora um indivíduo que labore em um templo umbandista, e que nos
dias e horas determinados incorpore (acople) um Caboclo, Preto-Velho etc., e
que estes ministrem passes ou dêem consultas aos assistentes. Ou ainda aqueles
que recebem mensagens de desencarnados através da espíritografia.
Aqui sim,
temos a figura da mediunidade, pois que o médium é um instrumento, está entre
uma causa, que são os espíritos, e entre um efeito ou finalidade, que são os
passes, consultas ou mensagens astrais.
Continuemos
a análise, ainda no capítulo Dos Médiuns.
Um pouco abaixo da conceituação de médium, temos uma outra afirmação: "…….
Por isso mesmo, raras são as pessoas que dela (a mediunidade) não possuem
rudimentos".
Ora, ao se
considerar que existem pessoas que, ainda que de forma rara, não possuam
rudimentos de mediunidade, está se concluindo que nem todos são médiuns. É simples
questão de interpretação.
E vamos
além. Esta segunda afirmação contradiz a conceituação de médium, que, sob nossa
ótica, já é em si um equívoco.
Bem
entendido então que mediunidade e influência dos espíritos são propriedades
diferentes, distintas, afirmando, ainda, que todo o médium é sensitivo, mas nem
todo o sensitivo é médium, vale dizer, mediunidade é um desdobramento ou reflexo
da sensibilidade.
Estas
explanações se fizeram necessárias, uma vez que, por conta de se difundir aos
quatro cantos e sem bases sólidas que todos somos médiuns, em alguns templos de
atividades mediúnicas, em nosso caso a Umbanda, onde a mediunidade de incorporação
(acoplamento) é predominante, pessoas que não são médiuns, ou sendo, não são de
incorporação, acabam por motivos diversos a serem vítimas de animismo, ou
mistificando (fingindo).
Ansiosos por
incorporarem entidades espirituais, terminam por plasmar Caboclos, Exus,
Pretos-Velhos etc., que nada mais são do que figuras imaginárias criadas por
sua própria mente, sem contar aquelas que, observando características dos Guias
manifestados, iniciam repugnante processo de imitação e mistificação.
Não queremos
de forma alguma caracterizar a mediunidade como privilégio de alguns, como
afirmado no Livro dos Médiuns. Mediunidade não é privilégio, é atividade
neutra, já o dissemos, e na maioria das vezes é de finalidade expiatória ou de
resgate.
O que desejamos
é que haja muita cautela em determinadas afirmações que, se colocadas de forma
irresponsável, podem trazer graves danos à mente das pessoas.
A vivência nos mostra que existem pessoas que passam toda sua vida religiosa
não incorporando, não recebendo mensagens de espíritos, não exteriorizando
qualquer tipo de faculdade anímica (vidência, audiência, clarividência, etc.) ,
nem sendo instrumento de qualquer outra expressão de mediunidade.
É certo, no entanto, que qualquer assertiva ou afirmação tem de ser alvo de
profundos questionamentos, sempre construtivos, é claro, para que não
caminhemos pela estrada nebulosa dos dogmas (afirmações não questionadas).
Saravá Umbanda!!!
Fonte: www.jornalumbandahoje.com.br