O texto abaixo é parte do conteúdo do livro História da Umbanda publicado em Agosto de 2010, Editora Madras.
Caso queiram repassar fiquem á vontade, peço apenas para não ocultar a fonte. Obrigado!
Definir o que é Religião não é tarefa fácil, definir o que é a Religião de Umbanda é muito mais complexo. Existe uma dificuldade em entender uma religião ainda em formação, na qual os elementos oriundos de outras culturas são, ainda, muito vivos e perceptíveis, o que faz parecer uma simples mistura de fatores diversos. No entanto, como diria Arthur Ramos, não existe religião pura[1], nem na essência e nem na forma, nenhuma outra teve origem diferente, “nada nasce do nada” ou melhor “nada se cria, tudo se transforma”. Novas religiões nascem da necessidade em atribuir novos significados a antigos símbolos, trazendo valores que possam dar um novo sentido a nossas vidas. Símbolos são um patrimônio da humanidade, que transcendem nossas visões individuais e limitadas, exercendo influência subjetiva em quem crê ou não nos mesmos, independente das mais variadas interpretações. Quem percebe que os símbolos são ancestrais, corre o risco de confundir o símbolo (atemporal) com sua interpretação (temporal), estes acabam por declarar que “sua interpretação (temporal) é milenar e ancestral (atemporal)”. Nossas interpretações são religiões, que nascem, crescem, evoluem, envelhecem e morrem, o que fica é símbolo e uma nova religião vai, com certeza reinterpretá-lo. Desta forma a Umbanda renova a interpretação para símbolos diversos; produzindo um novo significado, daí uma nova religião na qual antigos símbolos e novos valores se acomodam assumindo uma identidade única. Para entender melhor estes símbolos, seus significado e formas pelas quais se acomodam nesta nova religião, nos fazemos a pergunta:
O que é Umbanda?
A pergunta não é nova, desde seu nascimento que procuram umbandistas e não umbandistas responder a esta pergunta. Ao longo destes 100 anos de Umbanda no Brasil, é possível colher diversas respostas, sob diferentes pontos de vista, paradigmas e interesses. A História da Umbanda nos ajuda entender que as diferentes interpretações também são influenciadas por questões regionais, sociais, políticas, econômicas e culturais.
“A Umbanda é um ritual religioso tão grande que
nem que mil mãos escrevessem por mil anos ininterruptos
esgotariam seus mistérios”
Rubens Saraceni. Umbanda o Ritual do Culto à Natureza, 1995.
- “Umbanda é a manifestação do espírito para a caridade”
Caboclo das Sete Encruzilhadas em seu médium Zélio de Moraes (15 de Novembro de 1908)
- “Umbanda é Amor e Caridade”
Mãe Zilméia de Moraes em seus vários depoimentos para a Revista Espiritual de Umbanda, nas comemorações dos 97 anos de Umbanda e nas oportunidades que tive de estar junto dela, sempre foi esta a mesma definição dada para a Umbanda.
- “Umbanda é a Escola da Vida”; “Umbanda é coisa séria, para gente séria”
Caboclo Mirin e seu médium Benjamim Figueiredo (Tenda Mirim, 1924)
- “O objetivo da Linha Branca de Umbanda e Demanda é a pratica da caridade, libertando de obsessões, curando as moléstias de origem ou ligação espiritual, desmanchando os trabalhos da Magia Negra, e preparando um ambiente favorável a operosidade de seus adeptos”
Leal de Souza (O Espiritismo, a Magia e as Sete Linhas de Umbanda, 1933, p.49)
- “Religião Afro-indo-católico-espírita-ocultista”
Arthur Ramos, Antropólogo e etnólogo (Arthur Ramos. O Negro Brasileiro, 2ª ed. Pp.175-76, 1940 e 1ª Ed. em 1934, in, BASTIDE, 1971)
- “Umbanda é, demonstradamente, uma das maiores correntes do pensamento humano existentes na terra há mais de cem séculos, cuja raiz se perde na profundidade insondável das mais antigas filosofias.”
Diamantino Coelho Fernandes em sua tese apresentada no Primeiro Congresso Brasileiro do Espiritismo de Umbanda, O Espiritismo de Umbanda na Evolução dos Povos, como delegado e representante da Tenda Mirim, dia 19 de Outubro de 1941.
- “O Espiritismo de Umbanda é... ao mesmo tempo Religião, Ciência e Filosofia”
Diamantino Coelho Fernandes em outra tese para o Primeiro Congresso, com o tema O Espiritismo de Umbanda como Religião, Ciência e Filosofia, também em nome da Tenda Espírita Mirim, dia 23 de Outubro de 1941.
- “Umbanda é um ritual. Sua finalidade é o estudo e consequentemente a prática da magia.”; “Umbanda é o ritual indispensável à ação do homem no conhecimento de si mesmo e, consequentemente, no desbravamento do Universo, pois o Universo é um reflexo seu.”
Dr. Baptista de Oliveira, em memória apresentada no Primeiro Congresso Brasileiro do Espiritismo de Umbanda, com o tema Umbanda: Suas origens – Sua natureza e sua forma, dia 22 de Outubro de 1941.
- “Umbanda – tanto quanto qualquer outra doutrina espiritualista, alicerça-se nos Mistérios Arcaicos, é uma só e mesma coisa – Iniciação.”
Antônio Flora Nogueira fez esta afirmação durante o Primeiro Congresso Brasileiro do Espiritismo de Umbanda, em 25 de Outubro de 1941, registrado no livro de mesmo nome, p.257. E complementa ainda:
“Conforme tão eruditamente já foi exposto pelo espírito brilhante do operoso trabalhador da ‘Seara de Mirim’, Sr. Diamantino Coelho Fernandes, verifica-se que a lei-doutrina, ou mística, pertinente e inerente aos Mistérios Egípicios, Gregos, Aztecas, ou Incaicos – consiste numa única coisa, variando apenas a sua modalidade ritualística ou escola. Por isso não podemos concordar, quando um autor umbandista, embora culto e inteligente, afirma em seu livro que ‘Umbanda é um sincretismo, ou seja um sistema filosófico-religioso obtido pela fusão de todas as crenças universais’. Ademais, Umbanda existia como organização religiosa-iniciática, algumas centenas de milhares de anos antes da existência de religiões ou cultos organizados. Assim como o Ideal-Religioso-Iniciático foi lançado no continente africano pelos divinos reis ‘Kabirus’ que vieram das terras da Lemuria, de que a África era uma parte, outros divinos reis lançaram, como instrutores, a mesma semente iniciática junto de outros povos ou continentes.
- “Umbanda é espiritismo prático, é Magia Branca, é sessão de espiritismo realizada em mesa ou terreiro, para a prática do bem”
Lourenço Braga, 1941 (Lourenço Braga. Umbanda e Quimbanda. Rio de Janeiro: Ed. Spiker, 1961, 12ª edição, p.68). Nesta mesma obra o autor faz observações interessantes sobre a Umbanda, que merecem nossa citação aqui abaixo:
“Não se deve dizer – ‘Linha de Umbanda’ - , mas sim, - ‘Lei de Umbanda’ - ; Linhas são as 7 divisões de Umbanda.
‘Umbanda’ tornou-se conhecida no Brasil através da colonização africana. Sua significação era a seguinte: - fazer magia, por intermédio das forças invisíveis -, isto é, por intermédio das forças astrais, através de rituais de preceitos, de sinais cabalísticos, de cânticos, de música apropriada e de elementos outros, tais como sejam: - a água, o fogo, a fumaça, as bebidas, as comidas, os animais, objetos apropriados, etc.” p.12
“Essas organizações espirituais, ‘Umbanda’ e ‘Quimbanda’, vêm sofrendo várias modificações, desde a sua existência até à presente época, modificações essas acordes com a evolução dos espíritos reencarnados e com a marcha evolutiva do Planeta Terra. Assim é que, de acordo com as determinações do plano sideral, têm elas atualmente a organização apresentada neste livro (1941), a qual sofrerá ligeira alteração no ano 2.000 e profunda alteração no ano 2.200.” pp.14 e 15
“...Não, caros leitores, não se deixem empolgar e nem arrastar pelas inovações bizarras e nem tão pouco misturem Umbanda com Teosofia, Esoterismo ou Astrologia!” p. 15
Na obra Umbanda e Quimbanda – 2ª Parte, 1955, Lourenço Braga afirma ainda:
Meus irmãos em Deus, tudo no Universo é vibração. Deus é o criador. Ele pensa, mentaliza e cria. A própria matéria é fluido condensado, é a vibração do pensamento Divino que tomou forma, cristalizou-se.
Umbanda é pois uma vibração permanente, emanada da Consciência Cósmica ou pensamento Divino, que penetra no mundo espiritual, obedecendo a uma lei, através de cinco espécies de ondas, em posição vertical, obliqua e horizontal, atingindo assim o Plano Sideral. (p.17)
- “Umbanda – sincretismo de todas as religiões do planeta”
Capitão José Álvares Pessoa, Presidente da Tenda Espírita São Jerônimo, durante a inauguração da Tenda Espírita Santo Agostinho, registrado no livro O Culto de Umbanda em Face da Lei (Rio de Janeiro: Biblioteca Espiritualista de Umbanda – UEUJ, 1944. P.127). Abaixo outras definições de Capitão Pessoa registradas em outra obra (José Álvares Pessoa. Umbanda religião do Brasil. São Paulo: Ed. Obelisco, 1960, p.84 e p.102):
“Umbanda é o milagre vivo diante dos nossos olhos deslumbrados; Umbanda é a ação do Cristo na sua jornada pelo planeta, realizando a magia divina em favor da humanidade que se debate no sofrimento e na dor. Umbanda é magia, e magia é a mola que move este mundo.” “Umbanda é a própria alma do mundo trabalhando em prol da regeneração dos homens.”
- “A UMBANDA é hoje uma religião nacional, bem nossa, bem brasileira.”;
“A ‘Umbanda’ é uma ‘religião-ciência’, resultante da mescla de tradições, conhecimentos, cultos e ritualísticas oriundos do africanismo, do ameríndismo, do catolicismo e do espiritismo.”
Emanuel Zespo (Emanuel Zespo. O que é a Umbanda? Rio de Janeiro: Biblioteca Espiritualista Brasileira, 1946 – 2ª Ed. 1949. p.15 e 26)
Dando seqüência a esta definição o autor ainda explica:
“A Umbanda é uma religião porque possui culto, ritual, sacerdote, oferenda, e tudo quanto uma religião devidamente organizada possui neste ou naquele grau. A Umbanda é uma ciência porque, não se limitando a aceitação cega da imposição ritualística sacerdotal dogmática, indaga, pesquisa, investiga o dito sobrenatural servindo-se dos métodos mediúnicos kardecianos (mesmo quando seus adeptos não conhecem a ‘Terceira Revelação’) e dos métodos mediúnicos de Papus e Elifas Levi (mesmo quando as fórmulas evocativas são diferentes). A Umbanda, tanto quanto o espiritismo é uma ciência de experimentação e passível de evolução em grau que se não pode limitar. E é a Umbanda uma religião verdadeira? Para o católico nenhuma outra religião, além da sua, é verdadeira; e a sua fórmula dogmática é: ‘Fora da Igreja não há salvação’. Entretanto para o estudioso de religião comparada, que, à luz da história das civilizações e da ciência, concluiu que a fonte é uma só, a Umbanda não apenas é uma religião verdadeira como é também um vasto campo de pesquisa teosófica. É, portanto, a Umbanda, como antes dissemos, uma verdadeira religião e uma verdadeira ciência.”
No livro Codificação da Lei de Umbanda (Emanuel Zespo, Rio de Janeiro: Ed. Espiritualista, 1953, p.8 e p.47) o mesmo autor faz ainda outras considerações a cerca do que é a Umbanda, vejamos:
“A Umbanda – tal como surge agora no Brasil – é uma religião nascente, nova, moderna, produto da civilização ambiental; mas, também velha, antiga, remota quanto aos seus preceitos, à sua teogonia... Tanto quanto o Budismo aproveitou quase tudo do Bramanismo, o Cristianismo conservou o melhor do Mosaísmo, assim a Umbanda aproveita, conserva e guarda o que de bom e aproveitável pode haver em todas as religiões do passado. A Umbanda não é apenas uma corrente religiosa: ela é o sincretismo de todas as correntes religiosas, ela guarda os fundamentos de todas as teogonias e resume as bases de todas as filosofias”, “A Umbanda... é uma religião e uma ciência, um tipo de espiritismo religioso do Brasil”.
- “A Umbanda é uma ‘Lei’, que engloba todos os cultos de origem africana e, atualmente, também os de origem ameríndia.”
Oliveira Magno (A Umbanda Esotérica e Iniciática, 1950, p.14), como o autor teve alguns outros títulos publicados coloco abaixo mais duas considerações feitas por ele no título Ritual Prático de Umbanda, 1953, p.12 e 13, afim de complementar sua visão e a evolução do seu entendimento a cerca do que é a Umbanda:
“Podemos considerar a Umbanda na fé e na lei. Se a considerarmos na fé, principalmente de Jesus, temos uma religião; mas se a considerarmos na sua lei, temos uma ciência, porque na lei se pratica a magia, e a magia é considerada em ocultismo uma ciência.”
“Sendo nossas mentes limitadas, não nos é possível atingir ainda o ilimitado e portanto quem quiser saber o que é Umbanda que explique primeiro o que é Deus e a sua origem.”
- “A Umbanda é a Luz Divina, é a Fôrça, é a Fé, ou melhor: é a própria vida”
Aluízio Fontenele (EXU, 1952, Rio de Janeiro: Ed. Aurora)
- “Sem cogitar da etimologia do vocábulo, podemos considerar a Umbanda como a ação organizada contra o erro e a maldade sob todos os seus aspectos, o da magia negra inclusive”
João Severino Ramos (Tenda Espírita São Jorge. Umbanda e seus Cânticos, Rio de Janeiro, 1953, p. 22)
- “Umbanda é uma seita, professada dentro dos cultos afro-brasileiros e dentro dela existem várias nações, como: Omolocô, Keto, Nagô, Cambinda, Angola e outras mais.”
Tancredo da Silva Pinto (O Eró da Umbanda – Ed. Eco – sem data)
- “Umbanda é a banda espiritual que DEUS deu de sua banda ao homem para o esclarecimento do seu espírito na verdade que é a luz e na fé que deu inicio a religião”
Espírito de Francisco Eusébio – “Chico Feiticeiro” – psicografada por sua médium Maria Toledo Palmer (Maria Toledo Palmer. A Nova Lei Espírita Jesus e a Chave de Umbanda, 1953. p.48)
- “Umbanda é Evangelho e Magia. Luz que escapa às limitações. Vibração que percorre os espaços e vence os milênios. Escola magnífica da Ciência Secreta!”
Paulo Gomes de Oliveira (Umbanda Sagrada e Divina, 1953, Rio de Janeiro: Ed Aurora)
- “Umbanda é a Religião ensinada pelos Pretos Velhos e Caboclos de Aruanda”
AB’D ‘Ruanda (AB’D ‘Ruanda. “Lex Umbanda: Catecismo de Umbanda”. Rio de Janeiro: Ed. Aurora, 1954, p.17)
- “Sincretismo Nacional Afro-aborígene, espírita cristão”
Jamil Rachid, 1955 (Definição da Umbanda nos estatutos da União de Tendas, presidida por Pai Jamil, citado por NEGRÃO, 1995. p. 99; a mesma definição consta nos estatutos do SOUESP, Op. Cit. p. 147)
- “A Umbanda auto-representada pelo Congresso é cristã, espírita-kardecista, ecumênica e moralizada.”
Primeiro Congresso Paulista de Umbanda, 1961 (Citado por Lísias Nogueira Negrão, Entre a Cruz e a Encruzilhada, 1995. p.94)
- “A Umbanda é um novo culto brasileiro do século XX, resultante do sincretismo religioso de práticas e fundamentos católico-banto-sudaneses, apresentando algumas fusões ameríndia e oriental, com observância do evangelho segundo o espiritismo, constituídos de planos espirituais evolutivos pela reencarnação. Em síntese: A Umbanda é um culto espírita brasileiro, com ritual afro-ameríndio, enriquecido com alguma liturgia católica”
Cavalcanti Bandeira (O que é a Umbanda. Rio de Janeiro: Ed. ECO, primeira edição em 1961 e segunda edição em 1973, p.36)
- “A Umbanda é um culto espírita ritmado e ritualizado”
Fabico de Orunmilá, citado por Cavalcanti Bandeira na obra O que é a Umbanda, 1961.
- “Umbanda é espiritismo prático é magia branca, é sessão de espiritismo realizada em mesa ou terreiro, para a prática do bem, e foi trazida para o Brasil pelos pretos africanos”
Benedito Ramos da Silva, no livro Ritual de Umbanda, citado por Cavalcanti Bandeira, 1961, p.113.
- “A Umbanda é perfeita. Religião indubitavelmente pura, já que é baseada nas forças da Natureza, a Umbanda é ciência das mais belas, e forçoso é reconhecer que seus princípios filosóficos são um tanto complexos e não são fáceis de uma assimilação geral, até mesmo para seus praticantes mais convictos”
Átila Nunes Filho em Umbanda: Religião-desafio (Rio de Janeiro: Ed. Espiritualista, 1969. p.196) que complementa:
“As opiniões sobre os fundamentos da Umbanda se entrechocam e os exegetas se perdem no labirinto das teimosias, dos pontos de vista inarredáveis, e assim, geram controvérsias que levam os praticantes do culto à duvida constante sobre o que é certo ou que lhes parece incerto.” (p.196)
“ A Umbanda tem sua origem na ‘magia’, ou seja: ‘religião dos magos, ciência superior, sabedoria adquirida em conhecimento e experiências práticas, sensação de harmonia, fascinação, encanto...’ Umbanda não é brasileira nem africana; Umbanda é universal, pois suas pegadas são encontradas em toda parte, desde a criação do mundo.” (p.197)
- “Umbanda é luz que ilumina os fracos e confunde os poderosos, os maus”
Decelso (Decelso, Umbanda de Caboclos, 1972)
- “A Umbanda tanto quanto o Espiritismo, é uma ciência de experimentação e passível de evolução em grau que se não pode limitar”
Primado de Umbanda (Primado de Umbanda, Glossário, p.96. Decelso, Umbanda de Caboclos, 1972, p.23)
- “Umbanda é uma religião espírita, ritmada, ritualizada, euro-afro-brasileira”
Ronaldo Linares (Definição dada em aula, apostilada, por Ronaldo Linares para sua 25º turma de Sacerdotes Umbandistas, 2007. Também consta na sua obra Iniciação à Umbanda, Ed. Madras, 2008, p.52 )
- “Umbanda é o Ritual do Culto à Natureza”;
“Umbanda é o sinônimo de prática religiosa e magística caritativa”
Rubens Saraceni (Umbanda Sagrada, 2001 e Doutrina e Teologia de Umbanda Sagrada, 2003, Ed. Madras, Rubens Saraceni).
- “Umbanda é uma poderosa pajelança urbana”
Edmundo Pellizari (Jornal de Umbanda Sagrada, Julho de 2009)
- “Forma cultural originada da assimilação de elementos religiosos afro-brasileiros pelo espiritismo brasileiro urbano; magia branca" (Do quimbundo, umbanda, ‘magia’)
Aurélio Buarque de Holanda (Novo Dicionário Aurélio, 1986)
- “Se o Espiritismo é crença à procura de uma instituição, a Umbanda é aspiração religiosa em busca de uma forma.” ( p. 33)
Candido Procópio Ferreira de Camargo[2], Sociólogo, dando continuidade à obra de Roger Bastide (Socilogia da Religião), dedicou especial atenção ao “Kardecismo e Umbanda”. Definindo ambas como “Religiões Mediúnicas”, que fazem parte de um “continuum mediúnico”, como uma unidade, que “abarca desde as formas mais africanistas de Umbanda até o Kardecismo mais ortodoxo”.
Sobre a Umbanda ele complementa:
Dificuldade bastante maior apresenta-se na tarefa de caracterizar a Umbanda, pois representa sincretismo sem corpo doutrinário coerente e, pelo menos no momento (lembre-se ele está escrevendo este texto na década de 50), incapaz de se congregar em formas institucionais de certa amplitude.
Do ponto de vista histórico podemos discernir os elementos que integram o sincretismo umbandista:
a) Religiões de origem africana – dos povos Sudaneses e Banto – que vieram para o Brasil como escravos;
b) Catolicismo;
c) Espiritismo Kardecista;
d) Religiões indígenas (pp. 8-9)
- “Interpretei a Umbanda como uma religião heterodoxa...”
Diana Brown (Uma História da Umbanda no Rio in Umbanda e Política, 1985. p. 40)
- “Umbanda é, sobretudo multiforme, um sistema religioso estruturalmente aberto.”
Lísias Nogueira Negrão e Maria Helena Villas Boas Concone (Umbanda: da repressão à cooptação in Umbanda e Política, 1985. p. 74)
- “Umbanda, uma religião brasileira”
Este é o título de tese da Antropóloga Maria Helena Vilas Boas Concone, que foi usado para identificar a nacionalidade da religião, não pretendeu a autora fazer desta afirmação uma definição. Nós é que aproveitamos para lembrar que uma simples afirmação como esta pode vir a ser uma forma de identificação e definição.
Mas longe de resumir em palavras o que é Umbanda a autora afirma:
“Tentar caracterizar a Umbanda é um trabalho ingrato, escorregadio e difícil. Na verdade qualquer tentativa de caracterização absoluta está fadada, de antemão, ao insucesso”
(UMBANDA: UMA RELIGIÃO BRASILEIRA. São Paulo: Publicação do CER. Coleção “Religião e Sociedade Brasileira”, 1987. p.65)
- “A Umbanda seria um código de percepção e ação pelo qual a visão de mundo subalterna da sociedade se elabora e manifesta”
Lísias Nogueira Negrão referindo-se a forma como Bastide e Ortiz interpretavam a Umbanda, nas décadas de 1960 e 1970, respectivamente.
- “A Umbanda é a religião nacional do Brasil”
Afirmações políticas sobre a Umbanda no Segundo Congresso Brasileiro de Umbanda – 1961 (Citado em Manchete 11/61 in Umbanda e Política. p. 27)
Artigos publicados no Jornal de Umbanda e em O Semanário, e em muitas outras colunas e publicações de Umbanda, referiam-se à Umbanda como “uma religião brasileira”, “Umbanda, Religião Nacional do Brasil”, “Umbanda, ideal religioso para o Brasil” (grifo nosso), com freqüentes menções à temática desenvolvida por Gilberto Freire de ser o Brasil o único produto de miscigenação, e a Umbanda a única e verdadeira expressão religiosa brasileira dessa mistura.[3]
- “Umbanda é o grande e verdadeiro culto que os espíritos humanos encarnados, na Terra, prestam a Obatalá, por intermédio dos Orixás. Desse culto participam os espíritos elementais e os espíritos humanos desencarnados.” “Na sua essência e na sua finalidade, a Umbanda é idêntica a todas as religiões do passado e do presente.” “Em resumo, a Umbanda é a Caridade. Nada mais.”
Altair Pinto (Dicionário da Umbanda, Rio de Janeiro: Ed. ECO, 1971. pp. 195-197)
- “A Umbanda é uma religião profundamente ecológica. Devolve ao ser humano o sentido da reverência face as energias cósmicas. Renuncia aos sacrifícios de animais para restringir-se somente às flores e à luz, realidades sutis e espirituais.”
Leonardo Boff, teólogo cristão (Texto O Encanto dos Orixás in Jornal “A Notícia” – Joinvile – SC, 05/12/2009)
Jamil Rachid (Documentário Sarava 100 anos de Umbanda, 2009, Chama Produções)
- “Umbanda é religião, portanto só pratica o bem”
Alexandre Cumino (Documentário Sarava 100 anos de Umbanda, 2009, Chama Produções)
- “Umbanda é amor, humildade e caridade.” “Se um centro de Umbanda cobrar, coloque os dois pés para trás e saia correndo, isso não é Umbanda!”
Leonardo Cunha dos Santos, bisneto de Zélio de Moraes (Documentário Sarava 100 anos de Umbanda, 2009, Chama Produções).
Considero importante esta colocação, não apenas por ser uma afirmação do bisneto de Zélio, mas por lembrar que definir o que não é Umbanda faz parte do entendimento daquilo que vem a ser a Religião de Umbanda.
- “A Umbanda é uma semente divina que serve para acolher aqueles que têm mediúnidade”
Rubens Saraceni (Documentário Sarava 100 anos de Umbanda, 2009, Chama Produções)
- “A Umbanda é uma coisa só, ela está dividida em cada um de nós, está em cada um de nós, mas é uma coisa só. Muita gente pergunta: ‘O que é Umbanda Branca, o que é Umbanda Carismática, o que é Umbanda Sagrada?’ Umbanda é Umbanda. Umbanda ainda é amor e caridade, Umbanda ainda é o grito do caboclo, Umbanda ainda é o preto velho no toco” “Umbanda é a religião mais ecológica que nós conhecemos.” “Agente pode dizer que Umbanda é a religião da onipresença divina, porque não há distinção ”
Adriano Camargo (Documentário Sarava 100 anos de Umbanda, 2009, Chama Produções)
- “Umbanda é amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”
Claudinei Rodrigues, Sacerdote de Umbanda (Durante o Primeiro Seminário da Integração do Povo de Santo Para os Direitos Humanos – Câmara Municipal de São Paulo – 23/11/2009). Claudinei explica que embora aceite a definição do Caboclo das Sete Encruzilhadas, necessitamos de uma que fale ao coração de todos os cristãos, como esta que não é sua e sim de Cristo. Esta definição à luz do Cristianismo ajudaria muito a vencer o preconceito que sofremos por parte de alguns seguimentos “neo-pentecostais”.
- “A Umbanda é Paz e Amor, é um mundo cheio de luz, é a força que nos dá vida e a grandeza nos conduz...”
J. Alves de Oliveira (Hino da Umbanda)
- “Umbanda é fazer o bem sem olhar a quem”
Definição popular e de domínio público.
Todas estas definições foram pesquisadas para o livro História da Umbanda, de Alexandre Cumino e Editora Madras.
Definir Umbanda é definir algo vivo e em movimento, é como querer definir o que é o “ser” em toda a sua complexidade.
Segundo Roger Bastide nos encontramos em presença de uma religião a pique de nascer, mas que ainda não descobriu suas formas[4]. É certo que Bastide faz esta afirmação no final da década de 50, sob uma perspectiva dos Cultos Afro-Brasileiros. Lísias Nogueira Negrão afirma que:
...a identidade umbandista faz-se e refaz-se em função das demandas de diferenciação e legitimação, apresentando-se de forma eminentemente dinâmica e compósita. [5] Hoje a Umbanda se encontra melhor estruturada, no entanto podemos dizer que ela mantém as características de:
Religião ainda em formação (Roger Bastide), heterodoxa (Diane Brown), dinâmica e sobretudo multiforme, um sistema religioso estruturalmente aberto (Lísias Nogueira Negrão) e diversa, na qual se encontra uma certa unidade na diversidade[6] (Patrícia Birman). Em tempo, um fenômeno isolado não é Umbanda; Umbanda é Religião portanto existe dentro de um contexto histórico, geográfico, social e antropológico. Podemos dizer, num ponto de vista teológico, que Umbanda pertence a Deus e aos Orixás, quando pudermos definir Deus então, só neste dia, definiremos com precisão o que é Umbanda.
Alexandre Cumino
(Umbanda) não pode ser contida ou apreendida no seu todo por quem quer que seja. O mais que alguém poderá conseguir será captar partes desse todo... Umbanda traz em si energia divina viva e atuante, à qual nos sintonizamos a partir de nossas vibrações mentais, racionais e emocionais. Energias estas que se amoldam segundo nosso entendimento de mundo.
Rubens Saraceni. Umbanda – O Ritual do Culto à Natureza. 1995. P. 10
==================================================================
[1] Arthur Ramos. O Negro Brasileiro p. tal [2] CAMARGO, Candido Procópio Ferreira de. 1961, PP. XII [3] Diana Brown. Uma História da Umbanda no Rio in Umbanda e Política. p.30
Axé!
ResponderExcluir