Hoje é o dia de nossas e de tantas outras mulheres! Vamos fazer uma
pequena homenagem a elas através de nossas queridas Pombo Giras, que afinal são
maravilhosas e que transmitem facilmente essa bela missão do que é ser mulher!
Dia de Pombo Gira.
Estava imerso nos meus trabalhos quando senti a proximidade de um dos
Guias, ou melhor, de uma das Guias. Parei para perceber melhor e escutei:
- Boa noite, moço.
- Boa noite, minha senhora. Tudo bem? Posso ser útil em alguma coisa?
- Comigo está sempre tudo bem, moço. (gargalhada) Obrigada pela sua
gentileza.
- Não tem de quê, minha mãe à minha esquerda.
- Sabe, moço, agradeço seu carinho e o seu respeito, não são todos que o
têm, mas estou longe de ter um filho barbado. (gargalhada).
- Entendo, minha senhora…
- Mas tudo bem, meu filho. (gargalhada escrachada) Sabe moço, estava
vendo a movimentação e sei que haverá trabalhos na minha banda. Fico contente
por isso, mas não consigo entender uma coisa.
- O quê, minha mãe? – ri-me, já pressentindo o que vinha.
- (risos) Porque é que vocês só reverenciam a festa de Exu?
- De jeito nenhum, minha mãe, a festa sempre é também para a senhora.
- Não é isso que estou dizendo, moço.
- E o que é então?
- Sabe moço, estamos à frente e na frente de muitas coisas. Aliás, Pomba-gira
é assim mesmo, prá frente. (gargalhada)
- Isso eu sei… (risos), mas não entendo onde a senhora quer chegar.
- Olha, moço, vocês passaram por grandes mudanças e avanços sociais nos
últimos tempos, não?
- Não…vou dizer que ainda estamos passando, mas claro que muita coisa
mudou.
- E vão mudar mais ainda! (gargalhada) Bom, moço, sei que não tenho
muito tempo e queria falar-lhe uma coisa.
- Pode dizer, minha mãe.
- Apesar de atuarmos junto com os nossos companheiros Exus, nós não
somos nada parecidas com eles. Assim, não têm por que criar um dia para Exu e
reverenciar-nos também.
- Onde a senhora que chegar?
- Antes, na vossa ignorância, muitos nos chamavam de Exu mulher, mas
hoje isso passou, pelo menos para muitos, mas outros ainda possuem estes conceitos
ou piores (gargalhada escrachada).
- Sim?
- Então, como muitos já sabem disso, e como também sabem o muito que
fizemos por vocês e pela Umbanda, você não acha que está na hora de criar um
dia só para nós? (gargalhada).
- Acho que sim, minha mãe. Por mim pode até ser hoje.
- (gargalhada escrachada) Você acha moço, que Pomba Gira se contenta com
qualquer coisa? (gargalhada escrachada)
- Sei que não (risos), mas, mais uma vez, não entendi onde a senhora
quer chegar.
- Olha moço, quando vocês comemoram um dia para os Orixás, normalmente
ele tem a ver com o sincretismo religioso que vocês fazem, certo?
- Certo, mas infelizmente não conheço nenhum sincretismo religioso para
a senhora.
- (gargalhada) É porque de santa nós não temos nada! (gargalhada
escrachada) Mas se tivéssemos, qual seria esse sincretismo?
- Sei lá, minha mãe. Maria Madalena, talvez (risos).
- É, podia ser engraçado… Mas essa história de mulher da vida
continuaria nos perseguindo, ou não foi por isso que você pensou nela?
- Tenho que confessar que foi. Peço desculpas.
- Não tem que se desculpar não, moço, se a gente ligasse para isso, já
teríamos reclamado.
- Mas então com que santa sincretizamos a senhora, já que de santa a
senhora não tem nada? (risos)
- Engraçado você, não, moço? (gargalhada)
- Mas uma vez desculpe, mas não posso deixar de me lembrar do que as
senhoras representam na cabeça de muita gente.
- Isso é falta de informação ou ignorância mesmo, sabe moço?
- Sei.
- Mas que influenciamos algumas mudanças na mulherada, pode ter a
certeza.
- Acredito. Afinal vocês representam o arquétipo do prazer, a
sensualidade e a sexualidade feminina e a “mulherada” “tá” fogo (risos).
- Você falou bem, moço, feminino, não da mulher. Claro que somos mais
femininas que vocês, mas vocês também possuem um lado feminino, não?
- Claro que temos, minha mãe, assim como vocês têm um lado masculino.
- Esse não serve para nada. (gargalhada) Mas esse lado que muitos de vocês
(homens e mulheres) não usam, deveriam usar mais, sabe?
- Sei não, minha mãe. Pode-me contar?
- Não se faça de inocente, moço. Eu sei que você sabe, mas você quer ver
o que eu tenho para dizer e o que tiver que dizer eu digo moço. Acontece que é
através desse lado que vocês tanto realizam como se realizam nas coisas, pois é
nele que vocês encontram o prazer de fazer, de viver, de ser…
- Sei…
- Mas esse lado, moço, só se desenvolve com leveza, com soltura, com
sensibilidade e isso até mesmo muitas mulheres estão a esquecer-se.
- Acredito que sim, minha mãe.
- Mas, voltando ao assunto que você desviou, nós não nos contentamos com
qualquer coisa e nem com qualquer dia.
- Tudo bem, minha mãe, mas que dia a senhora quer para que possamos
homenageá-las?
- Sabe, moço, se nós não tivéssemos dado corda àquela mulherada toda,
muita coisa não teria mudado.
Entendendo onde ela queria chegar, perguntei:
- As senhoras ou o mistério?
- Isso não importa, pois é através dele que me manifesto, certo?
- Certo, minha mãe.
- Mas voltando onde você me interrompeu, se nós, ou como você disse, o
nosso mistério não tivesse incitado toda essa revolução feminina, as mulheres
não teriam conquistado um dia só para elas, sabe?
- Não, mas acho que estou a começar a perceber…
- Pois é, moço, tem sincretismo ou arquétipo melhor para nós do que
simplesmente a mulher, sem ser santa ou outra coisa qualquer? Simplesmente
mulher.
- Acho que não.
- Então concordamos, já que de santa eu não tenho nada, mas de mulher
tenho muito… (gargalhada)
- Concordo, minha mãe… (risos) Agora entendi, minha mãe. A senhora quer
que louvemos o seu dia no Dia Internacional da Mulher, não é isso?
- Pense moço, na revolução que isso seria. Homens homenageando suas
mães, esposas, filhas, irmãs e… nós. (gargalhada escrachada)
- Acho interessante, minha mãe, mas acredito que muitos não vão gostar
dessa idéia.
- Tudo bem, moço. Muitos já não gostam da gente mesmo. (gargalhada)
- Tudo bem, minha mãe. Na minha casa vou reverenciar esse dia como dia
das Pomba Giras. Está bom para a senhora?
- Está não, moço. Por que só na sua casa se isso pode ser em toda casa
de Umbanda? Como eu disse, nós não nos contentamos com pouca coisa!
(gargalhada)
Ri-me, mas já meio preocupado.
- Certo, minha mãe, mas o que a senhora quer que eu faça?
- Espalhe isso. Tenho a certeza que alguns vão gostar e aderir, outros
vão achar você um palhaço, mas faz parte. Se nós não agradamos a todo mundo,
você também não irá agradar quando relatar para os outros o que eu lhe estou
pedindo.
- Certo, minha mãe, mas a senhora agüenta a bronca desse lado aí, “tá”?
- (Gargalhada) Pode deixar moço… se você fizer direitinho, não há
problema. (gargalhada) Mas agora que já disse o que eu queria moço, eu vou
embora e o resto é com você.
- Até à próxima, minha mãe. A senhora quer que eu ponha o seu nome no
seu pedido?
- Ponha só Maria, pois não há nome que defina melhor o que é ser mulher
que Maria, não acha?
Assim a moça desapareceu gargalhando...
E aqui escrevo essa nossa pequena conversa, instituindo no nosso Templo o
dia 8 de Março como o dia dedicado a Pomba Gira. Um dia a mais dedicado a um
Orixá como tantos outros que dedicamos na nossa Umbanda.
Saravá a todas as Marias!
Salve as moças!
Laroyê Pomba Gira!
Parabéns a todas as Mulheres desse Universo! Saravá!
Fonte: http://lendasdearuanda.com/
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