Sete Encruzilhadas,
o Caboclo que anunciou o surgimento da Religião de Umbanda em 1908, declarou
que Jesus seria o Mestre a ser seguido pelos umbandistas. Controvérsias à
parte, já que alguns não aceitam suas palavras como base para uma vida
espiritual sadia, Jesus é o modelo mais perfeito escolhido para ser o espelho
dos médiuns e demais seguidores da Umbanda. Não há outro Médium vivido entre os
homens que tenha subtraído toda a autoridade do Grande Mestre da Judéia em se
tratando de vida mediúnica sadia e correta.
Jesus, o
Médium, em nenhum momento fez alarde de sua missão na Terra. Sendo detentor de
tanta autoridade, jamais exigiu que os homens se subjugassem a Ele. Jamais
impôs sua condição de Ser Iluminado a fim de obter prestígio perante os grandes
e diante dos pequenos. Suas palavras, cheias de autoridade, jamais foram
autoritárias. Pelo contrário, tinham uma meiguice e uma simplicidade que
encantavam os pequenos e incomodavam alguns que se achavam grandes.
Em sua
trajetória mediúnica na Terra, Jesus aguardou o momento certo para agir em
favor da caridade. Seu primeiro ato caritativo, no casamento de Caná, foi
precedido de uma oração feita pela mãe que, aflita, intercedeu pelos noivos e
seus pais. Jesus podia muito bem ter feito a transformação do vinho antes mesmo
de Maria lhe pedir com tanta veemência, mas aguardou a hora certa. Não se
precipitou, mas foi paciente para esperar que o tempo definisse o momento
propício.
O médiuns de
Umbanda, tanto os que estão iniciando quanto aqueles que já militam na fé, precisam
ser menos apressados em ser úteis no trabalho espiritual da caridade. O tempo
urge, mas não se precipita. Há médiuns que desejam ou querem tanto ser
utilizados como aparelhos dos Caboclos e Pretos Velhos que não se preocupam com
o próprio aprimoramento ou com o tempo certo para tal trabalho. Avançam
apressadamente para os terreiros, colocando roupas brancas - ou coloridas, como
queiram -, enchendo os pescoços de guias sem fundamentos e
"incorporando" alguma Entidade. Esquecem-se que incorporar qualquer
Entidade não é o principal. Essa faculdade é apenas uma das muitas tarefas a
desempenhar durante toda a vida. O início de tudo é a mudança que deve ocorrer
dentro de cada um. Assim como foi a transformação que Jesus realizou em Canã,
quando a água dos jarros ganhou cor, sabor e essência de vinho.
Apressadamente,
muitos médiuns estão servindo fel aos que comparecem às bodas que são
realizadas cotidianamente nos Terreiros de Umbanda. Em nome da
"vontade" de trabalhar ou "receber" Caboclo - como se isso
fosse um verdadeiro milagre - estão sendo depositários de uma bebida amargosa,
fétida e intragável, quando incorporam sem o devido preparo espiritual e logo
realizam consultas e receitam banhos, garrafadas e obrigações sem fim aos
convidados da festa chamada Gira. Não atinam para o fato de que eles próprios
são os jarros que devem conter a verdadeira bebida espiritual que servirá para
alegrar os corações necessitados que foram chamados a participar do evento. E,
como se isso não bastasse, logo depois das primeiras incorporações, já tomam
para si o título de "mestre divino".
Satisfeitos
de sua capacidade mediúnica de incorporar e de falar em nome dos Pretos Velhos
e dos Caboclos, logo sobem num pedestal ilusório e passam a encenar o quadro do
Sermão da Montanha. Olham do alto para os irmãos, tal como o humilde Jesus, e
orgulhosos iniciam uma pantomima que supostamente pretende ensinar aos fracos e
oprimidos da última hora. Baseados em sua pouca experiência e sem a devida
mudança de pensamentos, hábitos e desejos, levantam-se de peito inflado e voz
autoritária sobre os menos favorecidos como verdadeiros "mestres da
Galiléia".
Jesus, o exemplo apontado pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas, não foi um
médium dessa estirpe. Ao contrário, desde moço, encheu-se de sabedoria,
discernimento, autoridade e virtude para depois transmitir as novas da salvação
aos homens de sua época e os dos dias atuais. Não teve como base seus
pensamentos e suas experiências, mas sim as Palavras Sagradas dos Profetas.
Jesus não
teve olhos para os reinos do mundo. Como médium poderia servir-se de sua
condição para angariar respeito e poder diante dos magistrados, sacerdotes e
senhores da Judéia, mas rejeitou os oferecimentos políticos, mundanos e
passageiros, para continuar humildemente sua missão na Terra.
Jesus não se
intitulou "mestre", mas Filho. Não se arvorou como
"doutor", mas apresentou-se como Aprendiz diante do Templo. Não subiu
num trono para ser rei, mas encurvou-se como "Servo" aos pés dos
discípulos.
Assim deve
ser a Umbanda praticada por aqueles que se acham estupendos por incorporarem
uma Entidade de Luz. Esse deve ser o retrato daqueles que batem no peito e
dizem que são "médiuns".
A Umbanda
que Jesus praticou foi simples, sem estardalhaços, sem holofotes, sem soberba,
mas cheia de doçura como o vinho e de palavras vivas, como as da Montanha.
Por Julio Cezar Gomes Pinto
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